Menu

Mais estranho que a Ficção

Na noite desta 5a feira, dia 28/05, às 19h30, docentes e discentes reuniram-se na plataforma Jitsi, pra dar continuidade ao Segundo Ciclo do Projeto LinCom na QuarentenaDiálogos em LinCom, desta vez pra conversar sobre o tema da Pandemia abordado na Ficção Cinematográfica.

Filmes como A Epidemia e Contágio já antecipavam tragédia do Corona Vírus

Inicialmente foram elucidados exemplos de ficções que profetizam o futuro, assim como o conceito de cinema catástrofe (disaster movie), concebido a partir da fusão de três elementos: enredo apocalíptico, apelo melodramático e cenas de ação, com efeitos especiais. Este gênero faz uma mistura de ficção científica e fantasia, abordando temas capazes de gerar pânico no espectador.

Por isso há uma variedade de assuntos, que vão desde os conflitos dos homens entre si, do homem com a natureza (em que o fenômeno virótico se enquadraria) e do homem consigo mesmo. E daí frutificaram-se diversas histórias sobre acidentes nucleares, invasões e ataques extraterrestres, colisões com cometas, incêndios, inundações, furacões, terremotos, maremotos, acidentes aéreos e as intempéries da natureza.

A quantidade de filmes catástrofe é inesgotável

O surgimento da designação cinema-catástrofe como estética se deu a partir de um ensaio de Susan Sontag (1965), The imagination of disaster (A imaginação do desastre). Segundo a autora, estes filmes consistiam, primeiramente, em reflexos da corrida atômica e da questão política central dos Estados Unidos naquele contexto, que se resumia numa psicose de instauração e propagação do medo do comunismo. Algo bem similar ao que se vivencia atualmente aqui no Brasil.

Um dos grandes pensadores da atualidade, o filósofo esloveno Slavoj Zizek, já fez uma série de reflexões a respeito do ressurgimento dos disaster movies. Para ele, o que mais se destaca neste tipo de filme é a maneira como as circunstâncias dos desastres induzem a uma forma de cooperação social.

Algumas obras do filósofo Slavoj Zizek

Na discussão do grupo, foi mencionado o filme Epidemia (Outbreak, 1995), de Wolfang Petersen. Nesta narrativa, depois de um misterioso vírus dizimar uma tribo na África, um médico e sua equipe são chamados para estudá-lo. No interior dos EUA um macaco contrabandeado passa a ser o portador deste vírus, disseminando-o na população local, de uma pequena cidade, onde o contágio se desencadeia muito rapidamente, impondo-se, portanto a quarentena.

Trailer sem legenda de A Epidemia (1995)

Outro filme que dialoga com este é Contágio (Contagion, 2011), de Steve Soderbergh, pois as semelhanças com a realidade do corona vírus  são muitas. Este vírus também ataca o mundo inteiro e se transforma em pandemia. E o caos que é gerado – violência, protestos, saques a lojas e mercados, incêndios, roubos e assassinatos que se multiplicam exponencialmente – já começa a acontecer em diversas partes do mundo.

Trailer Legendado de Contágio (2011)

Outro filme mencionado na discussão foi O Fim dos Tempos (The Happening, 2008), de M. Night Shyamalan. A trama mostra a crise de um professor de Ciências com sua esposa. E pra não fugir da fórmula dos filmes-catástrofe, é a relação dos dois que será posta à prova diante da tragédia. Desta vez é uma toxina que se aproxima com a força dos ventos, atingindo o funcionamento do cérebro, fazendo as pessoas perderem seus instintos de preservação. A toxina transforma todos em potenciais suicidas.

Trailer legendado de O Fim dos Tempos (2008)

Através destes exemplos, foi possível constatar que a ficção já retratou diferentes maneiras de formação e contenção de epidemias, além de caracterizar a situação da população nesses entraves. Nos longas-metragens, viu-se que muitas vezes os vírus também têm origem animal, como provavelmente teve a Covid-19. Mesmo que esta gênese do novo corona vírus não esteja totalmente confirmada, existem suspeitas de que tenha surgido por meio de um desequilíbrio no habitat de morcegos, que infectaram pangolins e passaram o vírus aos humanos.

O mais interessante de refletir sobre a realidade a partir da ficção é que na ficção a catástrofe seria a única forma de propor uma utopia de cooperação social. O cinema catástrofe poderia ser tudo o que restaria de uma possibilidade de utopia dessa cooperação.

Exemplo deste verdadeiro reality show que as pessoas são obrigadas a viver para se protegerem de um inimigo comum encontramos no núcleo dramático de séries televisivas como The Walking Dead (já na décima temporada), que mostra bem a trajetória de famílias e de outros sobreviventes unidos para se manterem vivos após o mundo ter sido infestado por zumbis. E as reflexões discursivas e filosóficas têm sido inúmeras sobre o enredo, evidenciando principalmente a ideia de zumbis como metáforas do consumismo, dos limites morais e tantas outras especulações.

No encontro das turmas LinCom, além de comentar sobre os filmes, cada um teve também a oportunidade de relatar um pouco de seus anseios e demandas neste período de quarentena. A proposta de Diário da Quarentena se manteve, desta vez, oralmente.

Numa espécie de terapia em grupo, todos manifestaram seus principais medos e angústias diante das incertezas. Muito de seus rituais de proteção e higiene foram descritos e houve uma identificação coletiva. De forma unânime, todos perceberam que o que estamos vivendo é muito mais estranho do que a ficção já havia postulado.

Rua Jaguariaíva, 512 - Caiobá
Matinhos, Paraná | CEP 83.260-000
Fone: (41) 3511-8300