Pinguins-de-Magalhães reabilitados retornam ao mar

 25 de agosto de 2025 - 16h12

Fonte: Ana Cláudia Nunes (PMP-BS/LEC-UFPR – @lecufpr e www.lecufpr.net)

Nesta segunda-feira (25), após exatamente dois meses do primeiro registro de encalhe de pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) da temporada de inverno 2025 no litoral do Paraná, um grupo de aves reabilitadas voltou ao oceano. A soltura marcou dois momentos importantes: além de simbolizar a recuperação daqueles que chegaram debilitados às praias, o evento celebra o aniversário de 10 anos de atuação do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) no litoral paranaense. “Cada soltura é o resultado de um trabalho coletivo e multidisciplinar que envolve ciência, dedicação e compromisso. Para a equipe, ver esses animais voltando ao mar com saúde é a melhor forma de celebrar uma década de esforços em prol da conservação da biodiversidade”, afirma Camila Domit, coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da UFPR e do PMP-BS no Paraná.

Encalhes em 2025: cenário e números

Os pinguins-de-Magalhães chegam anualmente ao litoral brasileiro entre os meses de maio e setembro, vindos da Patagônia Argentina e Chilena. Percorrem aproximadamente 4 mil quilômetros em busca de alimento, mas nem todos conseguem completar o trajeto, especialmente os animais juvenis. Muitos encalham nas praias já debilitados, seja pela exaustão natural da migração ou devido a interações com atividades humanas, como redes de pesca e lixos.

Em 2025, até 17 de agosto, foram registrados 373 pinguins encalhados no Paraná. Desse total, 326 foram encontrados sem vida, mas 47 chegaram vivos às praias, sendo resgatados pela equipe do PMP-BS/LEC-UFPR e encaminhados ao Centro de Reabilitação, Despetrolização e Análise de Saúde da Fauna Marinha (CReD/UFPR).

De acordo com o médico veterinário Felipe Fukumori, do PMP-BS/LEC-UFPR, os animais resgatados com vida geralmente apresentam a chamada síndrome do pinguim encalhado. Ou seja, após avaliação clínica, é confirmando que o indivíduo encontra-se debilitado, subnutrido, desidratado e incapaz de manter a própria temperatura corporal. Entretanto, os encalhes deste ano também puderam ser associados a outras atividades antrópicas, identificadas através de exames clínicos e necropsia. “Durante o atendimento foi possível identificar marcas no animal de emalhe em redes de pesca, que comprovam a interação com a atividade pesqueira. Além disso, através de exames de imagens e posteriormente na necropsia, foram encontrados fragmentos, como plástico e outros lixos no sistema digestivo dos pinguins”, complementa Felipe.

Recuperação: do resgate à soltura

O processo de recuperação dos pinguins-de-Magalhães começa no momento em que encalham nas praias. O trabalho realizado pelos técnicos de monitoramento e monitores de campo é fundamental para aumentar as chances de sobrevivência dos indivíduos.

No CReD/UFPR, os animais recebem atendimento especializado, que inclui exames clínicos e laboratoriais para identificar o estado geral e possíveis complicações. A partir desse diagnóstico, inicia-se a fase de estabilização e hidratação, seguida de uma dieta balanceada, composta por peixes frescos e suplementação nutricional.

À medida que evoluem na reabilitação, os pinguins passam a ter acesso às piscinas, onde recuperam força muscular, voltam a impermeabilizar as penas e readquirem comportamentos sociais importantes, como a formação de grupos. Essa fase é decisiva para avaliar se eles estão prontos para voltar ao oceano. Somente quando atingem as condições ideais de saúde, peso e comportamento, os pinguins recebem a liberação para a soltura.

Segundo Liana Rosa, bióloga e gerente operacional do PMP-BS/LEC-UFPR, o retorno do animal à natureza é o reflexo do esforço coletivo feito pela equipe. Desde o primeiro atendimento na praia até os dias de reabilitação no CReD, cada etapa é fundamental para garantir a saúde e o bem estar dos animais. Nosso objetivo é devolver esses animais saudáveis ao oceano e cada soltura é a materialização do nosso trabalho em prol da conservação marinha”, completou Liana.

10 anos de trabalho pela ciência e conservação

foto de Giuliani Manfredini

A soltura deste primeiro grupo de pinguins reabilitados ganha um significado especial em 2025, pois marca o aniversário de 10 anos do PMP-BS no Paraná. Desde agosto de 2015, o projeto registrou quase 30 mil animais marinhos encalhados no litoral do estado, gerando informações fundamentais sobre a biodiversidade local e sobre os impactos das atividades humanas no ambiente costeiro.

Ao longo dessa década, o projeto monitorou, registrou, analisou e reabilitou a fauna marinha, mas foi além, também contribuiu para a formulação de políticas públicas de conservação e em prol da qualidade ambiental, para a sensibilização da sociedade e para a formação de dezenas de jovens pesquisadores. “Através do nosso trabalho transformamos dados em informação, ciência em ação e pesquisa em impacto real para a sociedade. Essa é a essência da nossa atuação: compreender e atuar ativamente para garantir um ambiente de qualidade para todos, incluindo seres humanos, fauna e flora”, resume a coordenadora Camila.

Pinguins de volta ao mar

O momento da soltura é planejado com cuidado. Sob supervisão da equipe, os pinguins caminham pela areia até alcançarem o mar, onde retomam ao oceano. O momento, além de emocionante, simboliza a conexão entre ciência, sociedade e a conservação do oceano e da vida.

foto de Giuliani Manfredini

SOBRE O PMP-BS

A realização do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, para as atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos. No estado do Paraná, Trecho 6, a execução do projeto é realizada pela equipe LEC/UFPR (@lecufpr e www.lecufpr.net).

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