Transporte universitário foi abordado pela Alep

 19 de maio de 2025 - 11h54

O Plenarinho da Assembleia Legislativa reuniu no dia 14 (quarta-feira) docentes, estudantes e gestores municipais em uma audiência pública para debater questões relacionadas ao transporte universitário nas cidades do litoral do Paraná – Paranaguá, Morretes, Matinhos, Pontal do Paraná, Antonina, Guaratuba e Guaraqueçaba.

A pauta foi proposta pela deputada estadual Ana Júlia (PT), que é ativista da educação pública, bacharel em Direito pela PUC-PR e estudante de Filosofia na UFPR, e teve o objetivo buscar soluções para a lacuna do transporte universitário intermunicipal. “Como o ensino superior não é considerado membro do currículo básico, o transporte acaba sem responsável definido. Nem governo federal, nem estadual, nem municipal. Ninguém cuida do problema”, denunciou a parlamentar.

Docentes e discentes relataram que as viagens de ônibus intermunicipais no litoral podem chegar a durar quatro horas. Nenhuma regulamentação responsabiliza uma das instâncias públicas por esse serviço. Nas universidades falta orçamento para o custeio da locomoção e há inconstância na oferta desses veículos gratuitos pelas prefeituras locais.

Foi proposta durante o evento a criação de um consórcio intermunicipal para gerir o transporte dos universitários. A medida, sugerida pelo pró-reitor de Pertencimento e Políticas de Permanência Estudantil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), André Vinicius Martinez Gonçalves visa evitar interrupções no serviço em razão de gestões ou encerramento de contratos.

Falta de transporte aumenta a evasão

A precariedade do transporte uma das principais causas da evasão nas instituições, avalia Vanessa Marion Andreoli, diretora da UFPR Litoral. Os universitários da região, cujo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é inferior à média do Estado, não possuem condições financeiras para arcar com vans escolares ou veículos próprios. “Estamos perdendo esses estudantes para a educação a distância”, pontuou a gestora.

Atualmente as instituições de ensino em diálogo com os municípios adotam diferentes estratégias para tentar garantir esse direito aos estudantes. Desde a disponibilização de tarifas gratuitas (Paranaguá), isenção do custo da passagem em ônibus intermunicipais (Pontal do Paraná) e ônibus específicos para a locomoção dos alunos (Matinhos e Antonina).

No entanto, as mudanças de gestão nas prefeituras, que geram interrupção nos serviços, e a morosidade de licitações para aquisição e conserto de veículos estão entre as razões que tornam o problema crônico. “Sempre temos alguma cidade sem ônibus e alunos que não conseguem chegar à universidade por falta de transporte público”, explica Luis Fernando Roveda, vice-diretor do campus da Universidade do Estado do Paraná (Unespar).

Em Guaratuba, o único ônibus da cidade reservado para o transporte de universitários precisou ser realocado para atender alunos do ensino básico da área rural após a licitação vinculada ao veículo ser interrompida. Segundo a diretora geral da secretaria de educação, Paulina Jagher Muniz, “Até o momento não temos esse ônibus disponível. Estamos agora em fase de licitação, mas é tudo muito moroso”. Também esteve presente a secretária de Educação de Matinhos, Célia Amaral, que enfatizou que é necessário que “todos os municípios adotem estratégias para ajudar a atender a demanda”.

Trajetos de até quatro horas
Universitários lotaram o Plenarinho da Assembleia Legislativa do Paraná e compartilharam seus desafios para acessar o ensino superior. Recém-graduado em administração pela Unespar, Luis Victor Morais contou como lidava, como morador de Guaratuba, para chegar no Campus Paranaguá – as cidades têm 50 quilômetros de distância. 

“Minhas aulas acabavam às 22h30. Eu ficava até às 23h10 na rodoviária e chegava 1h30 no ferry boat. Se ele não estivesse lá, levaria mais 40 minutos para chegar em casa”, relatou. “Os estudantes de Guaratuba dependem 100% da Viação Graciosa. E ela não atende nossas demandas de segurança, pois não há cinto de segurança, de pontualidade. Os horários também não são viáveis”, continuou o estudante.

A graduanda Karyn Christyny Ferreira Alves Gomes percebeu sua turma enxugar no espaço de um ano. “Os 40 calouros que cursavam Ciências Sociais no IFPR, campus Paranaguá, passaram para 10 em 2025. A principal causa é a dificuldade ou a impossibilidade de conseguir estudar sem transporte adequado”, desabafou.

“Preciso pegar três ônibus para chegar na aula às 19h. Na volta, saio às 22h15. O ônibus do campo só sai às 22h50. Chego ao terminal de Paranaguá às 23h45. O que me levaria para casa já partiu às 23h35. Fico sem opção: dependo de caronas, aplicativos ou preciso caminhar sozinhas”, contou a jovem, que convive com deficiência na visão.

Para a deputada Ana Júlia, o primeiro objetivo da audiência foi atingido, ao reunir representantes das instituições de ensino superior e representantes dos poderes públicos para debater o tema. Segundo ela, será a mobilização constante de estudantes e de todas as comunidades universitárias que irá conquistar uma solução definitiva os problemas apresentados. “Nós temos um novo perfil de estudante universitário, as universitárias eram pensadas pelas elites, agora que 50% dos estudantes vêm de escolas públicas, temos mais gente precisando de transporte, esse problema está ficando insustentável e precisamos de uma solução definitiva”, enfatizou a deputada.

A íntegra da audiênscia está disponível no Youtube.


Com informações da Assessoria de Imprensa da Alep
Foto: Orlando Kissner

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