Redação: Aline Gonçalves | Edição: Aline Fernandes (Sucom)
Conciliar a maternidade com a vida universitária ainda é um desafio presente em todas as instituições de ensino superior. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), essa realidade ganhou atenção especial com a criação do Grupo de Trabalho (GT) Maternidade, que reúne diferentes setores acadêmicos e administrativos para propor ações de permanência e acolhimento às estudantes mães.
Entre as iniciativas já implementadas, estão os espaços multiuso destinados ao cuidado de mães e crianças. “A primeira frente do GT é a de espaço físico, que tem o objetivo de criar em todos os setores da UFPR uma sala multiuso. Um lugar no qual as mães possam amamentar, esgotar o leite, trocar suas crianças, e pessoas da família ou amigos possam ficar com a criança até que a mãe possa vir amamentá-la”, explica a professora Célia Ratusniak, coordenadora de Políticas Interseccionais para Equidade de Gênero, Raça e Sexualidade da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidades (Proafe).
Atualmente, dois desses espaços estão em funcionamento: um no prédio Dom Pedro II, no Campus Reitoria, que atende os Setores de Educação e Humanas, e outro no Setor Litoral. Uma sala também está sendo preparada para atender o Setor de Ciências Biológicas.
Para muitos estudantes, esses espaços já fazem diferença. É o caso de Leda dos Santos Carreiro, de 25 anos, aluna de Gestão de Turismo no Setor Litoral e mãe de um menino de um ano e nove meses. “Acredito que o meu maior desafio é conseguir conciliar todas as dimensões da minha vida. Essa conciliação exige um esforço constante”, conta.
Natural de outro estado, Leda vive apenas com o filho em Matinhos, o que torna o cotidiano ainda mais desafiador. Segundo a estudante, o ambiente universitário se tornou também um espaço de convivência para a criança. “O meu filho praticamente cresceu dentro da universidade. Desde os oito meses ele já me acompanha, então posso dizer que esse ambiente faz parte da vida dele. Claro, faz bastante bagunça, mas sempre trago os brinquedos e as coisas dele para conseguir me organizar. O que me deixa mais tranquila é ver como colegas e professores recebem ele com carinho e compreensão. Nunca senti rejeição — pelo contrário, sempre encontro acolhimento”, afirma.

Construção de políticas
O GT Maternidade também atua na regulamentação de direitos. Uma das propostas em tramitação é a minuta de resolução que amplia prazos acadêmicos em virtude de parto, de nascimento de filho, de adoção ou de obtenção de guarda judicial para fins de adoção, a partir da Lei 14.925/2024. A proposta está em análise jurídica e deverá ser votada pelo Conselho Universitário nos próximos meses.
Outro avanço foi a elaboração de uma política institucional de permanência para estudantes mães, desenvolvida de forma coletiva e com participação do Coletivo de Mães da UFPR. A construção envolveu diversas pró-reitorias e será a base para futuras ações, incluindo também demandas de servidoras mães, próximo foco do GT.
“Construir essas políticas é um avanço e uma necessidade da UFPR, que precisa se adequar a uma legislação já existente e garantir o direito das estudantes mães à permanência”, reforça Célia Ratusniak.
Origem do GT
A ideia de estruturar políticas de maternidade na UFPR surgiu a partir das discussões do projeto de extensão Põe na Roda, que aplicou em 2024 um formulário com estudantes e servidoras. Os dados mostraram que a instituição ainda não era percebida como parte efetiva da rede de apoio dessas mulheres.
Diante desse resultado e a partir de experiências de outras instituições, a equipe se articulou para a criação do GT, em fevereiro de 2025, reunindo representantes de diferentes setores, estudantes, docentes e o Coletivo de Mães da UFPR.
Para muitas mães como Leda, a iniciativa já traz sinais de mudança. “Isso me dá segurança para trazer meu filho comigo e mostra que a universidade também pode ser um espaço de afeto e convivência para ele”.
Com informações da Proafe-UFPR