Estudo pioneiro no Brasil analisa o efeito de variáveis meteorológicas, como temperatura, umidade relativa e precipitação pluvial, na transmissão de COVID-19 em cinco cidades com alta incidência da doença. O estudo foi realizado em parceria pelos pesquisadores André Auler e Vinício Oliveira, da UFPR (Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, Setor de Ciências Agrárias; e da Câmara de Saúde Coletiva, Setor Litoral), e Fábio Cássaro e Luiz Pires da UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa (Departamento de Física). O estudo foi publicado na revista Science of The Total Environment, periódico científico com alto fator de impacto e relevância.
Os resultados demonstraram que em cidades com temperaturas próximas a 27 graus Celsius e umidades relativas do ar próximas a 79% tiveram as maiores taxas de transmissão da doença, contrariando os resultados até então reportados. Ainda, ficou evidente que há uma combinação entre a temperatura e a umidade relativa do ar (condicionada pelos eventos de precipitação), denominada de umidade absoluta, que mais favorece a disseminação da doença.
Segundo o professor André Auler, o estudo buscou identificar o possível aumento na transmissão da doença em função da temperatura, umidade relativa e precipitação pluvial. Os autores destacam a importância de um estudo local, pois a informação até então disponível foi baseada em estudos conduzidos em países mais frios que o Brasil, com temperatura média de aproximadamente três graus Celsius.
“Com base nesses estudos, o aumento da temperatura, por exemplo, reduziria a transmissão do vírus. Contudo, no Brasil não tem se observado esse comportamento. A exemplo as cidades da Região Norte e Nordeste, locais com maiores taxas de incidência e mortalidade”, enfatizam os autores. Eles ainda destacam que, em função destes estudos, pode existir a falsa impressão de que a doença não seria um problema tão grave no território nacional.
Com isso, segundo Vinício Oliveira, são necessárias políticas e ações intersetoriais capazes de mitigar os efeitos da pandemia, principalmente em cidades onde a taxa de contaminação está aumentando rapidamente, com o objetivo de reduzir a transmissão e o possível colapso do sistema de saúde. Devem ser adotadas medidas de prevenção e proteção nessas cidades, sendo o isolamento social a medida mais eficaz.
Os pesquisadores pretendem continuar o estudo. “Faremos o mapeamento não apenas com variáveis meteorológicas, mas também com variáveis socioeconômicas, indicadores de qualidade de vida, taxas de isolamento social, informações sobre saneamento básico, entre outras”, afirmou Vinício.

Figuras adaptadas do artigo original. A ordem de cores indica cidade mais quente (vermelho) para a mais fria (azul).