Estudo da UFPR revela a evolução da COVID-19

 6 de outubro de 2022 - 11h56

Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) monitoraram desde janeiro de 2021 a incidência da COVID-19 e a resposta às vacinas no litoral do Paraná utilizando metodologia para detecção de anticorpos desenvolvida na UFPR. Cerca de 6.000 análises foram realizadas com amostras de sangue coletadas entre janeiro 2021 e junho de 2022  

As vacinas que conferem proteção contra a COVID-19 foram disponibilizadas ao público no Brasil no fim de janeiro de 2021. O programa de vacinação brasileiro emprega vacinas com diferentes tecnologias de diferentes fabricantes sendo CoronaVac (Sinovac), BNT162b2 (Pfizer/BioNTech) e ChAdOx1 (Oxford/AstraZeneca/Fiocruz) as mais utilizadas. Apesar dos estudos clínicos realizados pelas fabricantes terem determinado a segurança e eficácia dessas vacinas, é importante compreender se a eficácia será mantida em um cenário da vida real, onde variáveis adicionais como logística de transporte, hesitação da população na vacinação, atraso nas doses e infecções naturais, se aplicam. Além disso, é importante determinar se os intervalos recomendados entre as doses e as combinações entre diferentes combinações de vacinas para doses primárias e de reforço estão sendo adequadas para manutenção da proteção da população 

Estudos recentes indicam que os níveis de anticorpos IgG reativo para a proteína spike do SARS-CoV-2, gerados pela vacinação, estão diretamente correlacionados com a grau de eficácia vacinal. Portanto, uma análise comparativa dos níveis de IgG reativos para proteína Spike em escala populacional pode fornecer informação importantes a efetividade da vacinação na população. Quanto maiores os níveis de IgG reativos para proteína Spike no sangue de um indivíduo, maior será se grau de proteção contra infecções sintomáticas e desenvolvimento da COVID-19 grave. 

O estudo analisou os níveis de anticorpo IgG reativo para spike na população na cidade de Matinhos. Já no início de 2022, mais de 95% da população da cidade apresentava níveis de IgG detectáveis, este número se manteve constante até o fim do estudo em junho de 2022. Os resultados indicam que as campanhas de vacinação foram muito eficientes e tiveram alta adesão da população. Isto explica a drástica redução das mortes por COVID-19 no início de 2022 apesar do elevado número de casos de infecção que ocorreram neste período devido ao surgimento da variante ômicron, variante que pode escapar parcialmente os anticorpos induzidos pela vacinação.  

Comparação da resposta das diferentes vacinas: O estudo avaliou os níveis de IgG reativos para proteína Spike de acordo com os fabricantes das vacinas. Os dados indicam que todas as pessoas que tomaram a segunda dose, independente do fabricante da vacina, apresentaram níveis de anticorpos superiores as pessoas não vacinadas. Não foram detectadas diferenças nos níveis de anticorpos de acordo com o sexo, cidade de residência e idade dos participantes (participaram do estudo apenas pessoas entre 18 e 70 anos de idade). 

Os níveis de anticorpos detectados para proteína Spike foram superiores para a vacina da Pfizer, seguido de AstraZeneca e Coronavac. A vacina da Janssen não foi considerada no estudo devido à baixa representatividade amostral. Os resultados das taxas de desenvolvimento de anticorpos (seroconversão) induzidas por cada tipo de vacina seguiram de perto os números de eficácia das vacinas obtidos nos estudos clínicos. “Isto indica que os dados dos estudos podem ser extrapolados para a vida real e não estão sendo afetados por outras variáveis”, revela Prof. Luciano Huergo, coordenador da pesquisa. 

Uma questão importante a ser considerada é: Por quanto tempo os anticorpos desenvolvidos pelas vacinas irão permanecer na população? Notamos que alguns meses após a aplicação da segunda dose os níveis de anticorpos reativos para proteína Spike diminuem significativamente. Porém, após a aplicação da dose de reforço (terceira dose), os níveis aumentam novamente. Portanto, é importantíssimo que as pessoas mantenham sua carteira de vacinação em dia. 

Também foram avaliadas as combinações de diferentes vacinas como primeira e segunda e dose de reforço. Na maior parte das análises a vacina usada na dose de reforço foi a da Pfizer. A aplicação desta vacina como terceira dose foi muito eficaz em elevar os níveis de IgG reativo para spike. Independente de qual foi a vacina usada na primeira e segunda dose, uma terceira dose de Pfizer gerou o mesmo efeito obtido com 2 ou 3 doses de Pfizer.  

Também foram avaliados casos combinados de vacinação e infecção natural. “O que podemos compreender até o momento é que uma infecção natural pode aumentar os níveis de anticorpos naqueles que não se vacinaram ou que tomaram apenas a primeira ou segunda doses’. Para aquelas pessoas que tomaram a terceira dose os níveis de anticorpos encontrados são muito mais elevados dos aqueles atingidos com infecções naturais.  

Os estudos foram publicados em forma pre-print sem revisão por pares e está disponível em https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2022.09.28.22280449v1. O artigo final foi submetido para publicação e está em fase de avaliação por pares.  

As testagens de COVID-19 continuam no Setor Litoral da UFPR e o cadastro e agendamento para participar pode ser realizado no site http://200.17.236.32/covid19/ 

Outras conclusões: Os estudos reforçam a importância da testagem sorológica. “Apesar de termos avançado na produção nacional de testes que detectam infecções ativas como RT-qPCR e testes de antígenos ainda não há uma política no sentido de desenvolver ou fornecer testes sorológicos, como aqueles desenvolvidos aqui na UFPR, à população. O estudo mostra que testes sorológicos são ferramentas poderosas no acompanhamento epidemiológico da doença e na resposta vacinal. Também pode ser uma ferramenta para distinguir doenças que tenha sintomas similares como a dengue que é muito comum no Litoral. “Muitas vezes recebemos pessoas que tem indicação médica para realizar um exame sorológico, mas que não podem pagar pelo teste”, revela o pesquisador.  

O potencial de uso da tecnologia de testes sorológicos desenvolvida na UFPR que usa partículas magnéticas para detecção de anticorpos é grande. Atualmente estamos trabalhando na formulação de um sistema para detecção sorológica de dengue em humanos. “Os dados preliminares são muito promissores”.

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