Por: Juliane Dias Aldrighi
No Brasil, agosto é um mês dedicado à conscientização sobre a violência contra a mulher, uma temática que exige um olhar atento, especialmente sob a perspectiva da saúde pública. A violência de gênero é um problema complexo e multifacetado, que afeta a saúde fÃsica, mental e social das mulheres, configurando-se como uma questão de saúde pública de alta relevância.
A Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher de 2023, conduzida pelo Instituto DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), revela dados alarmantes que corroboram a necessidade de ações efetivas no combate à violência. A pesquisa, que ouviu mais de 21 mil mulheres em todo o Brasil, traz um panorama sobre a percepção da violência doméstica e familiar e suas consequências para as mulheres.
De acordo com os dados coletados, 74% das mulheres entrevistadas percebem um aumento da violência doméstica nos últimos 12 meses, um dado que, embora represente uma queda em relação ao levantamento de 2021 (quando esse Ãndice era de 86%), ainda é preocupante. A pesquisa também destaca que as mulheres pretas, pardas e indÃgenas relatam uma maior percepção de aumento da violência em comparação à s mulheres brancas, evidenciando a interseção entre racismo e violência de gênero.
Outro aspecto crucial levantado pela pesquisa é a questão da subnotificação. A maioria das mulheres acredita que as vÃtimas de violência denunciam os agressores na minoria das vezes ou sequer denunciam. Entre os fatores que mais contribuem para essa subnotificação estão o medo do agressor, a dependência financeira e a falta de punição adequada, além do desconhecimento dos direitos legais por parte das vÃtimas.
Esses dados demonstram a necessidade de polÃticas públicas que abordem a violência contra a mulher de maneira integral e inclusiva, levando em consideração as especificidades de raça, classe e orientação sexual. A Lei Maria da Penha, embora seja um marco importante, ainda é insuficientemente conhecida por grande parte da população feminina. Portanto, campanhas de conscientização e educação sobre os direitos das mulheres são fundamentais.
Do ponto de vista da saúde pública, a violência contra a mulher é um fator que contribui para a sobrecarga dos serviços de saúde, que precisam lidar com as consequências fÃsicas e psicológicas dessa violência. Traumas fÃsicos, transtornos mentais, problemas de saúde reprodutiva e até mesmo o feminicÃdio são algumas das graves consequências que demandam atenção dos profissionais de saúde.
É fundamental lembrar que a mulher pode e deve procurar os serviços de saúde para pedir ajuda. Profissionais de saúde estão preparados para acolher, orientar e oferecer o suporte necessário. Além disso, o Disque Denúncia 180 é um canal acessÃvel para que as vÃtimas possam denunciar casos de violência e buscar orientações. No âmbito da UFPR Litoral, as mulheres podem contar com o apoio da SAPS (Seção de Atenção e Promoção da Saúde), que está disponÃvel para acolher e oferecer o suporte necessário.

Fonte
INSTITUTO DATASENADO; OBSERVATÓRIO DA MULHER CONTRA A VIOLÊNCIA. Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher: Relatório 2023. BrasÃlia: Senado Federal, 2023. 76 p. DisponÃvel em: https://www.senado.leg.br/datasenado. Acesso em: 8 ago. 2024.