De maio a outubro deste ano, a UFPR Litoral, por meio do projeto Licenciar Mutirão de Memórias e da Seção de Políticas Afirmativas, Assuntos Estudantis e Comunitários (Sepol) promove o curso Educação para as relações étnico-raciais (ERER).
O objetivo do curso é fomentar o estudo e o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, como preconiza a lei que obriga que seja incluído no currículo oficial da Rede de Ensino a temática História e Cultura Afro-Brasileira (Lei N° 10.639/2003). A partir de um levantamento realizado na cidade de Matinhos, em 2015, pelo projeto Licenciar Mutirão das Memórias, foi constatado que a lei está sendo atendida de modo parcial: somente é realizada a comemoração do dia 20 de novembro (dia da consciência negra), mas são trabalhados conteúdos de história e culturas afro-brasileiras.
No dia 25 de agosto, o palestrante convidado para tratar do tema elaboração de projetos que envolvem a população negra, foi o professor Paulo Vinicius Baptista da Silva, do Setor de Educação da UFPR, pós-doutor em relações étnico-raciais, psicólogo e especialista em políticas afirmativas. Paulo afirma praticar o que chama de ativismo acadêmico dentro dessa área de igualdade racial e participa da construção e das ações de políticas afirmativas dentro da UFPR, desde a estruturação do Núcleo de Estudos Afro brasileiros (Neab). Para ele, o litoral do Paraná tem uma população negra expressiva e expressões culturais importante ligadas a essas etnias, como o carnaval, uma tradição muito grande, há quilombos também, existe um conhecimento imanente da população.
“Dentro da universidade a gente foi ganhando espaço progressivamente, com a formação de professores. Aqui no Setor litoral há docentes que trabalham e pesquisam essas comunidades. Há um desafio enorme de diálogo permanente com essas populações. Eu acho que um dos objetivos do Setor Litoral, passa pelo desenvolvimento dessas populações”, analisou Paulo.
Segundo ele, para ter o desenvolvimento dessas populações negras do litoral são necessárias políticas afirmativas, uma visão que não esconda a situação de racismo que pesa para as pessoas negras em seu cotidiano e muitas vezes dentro da universidade. “Há de se questionar formas de racismo institucional que muita gente não percebe e que estão presentes. São muitos os desafios que nós temos”, continuou o professor.
A coordenadora do curso, professora Ana Josefina Ferrari, aponta que, diante desse quadro, a equipe Licenciar Mutirão das Memórias decidiu oferecer um curso de extensão (120h) direcionado a professores de escolas públicas e privadas do Litoral do Paraná e a licenciados e licenciandos. “Essa grande demanda no Litoral do Paraná indica a necessidade de trazer a temática para a região e nos leva à reflexão que pretendemos apresentar. Nosso objetivo é apresentar esta ação afirmativa realizada a partir da ação colaborativa e apresentar os resultados da mesma. Partimos da hipótese de que é preciso reforçar e traçar mais e melhores estratégias para que consigamos livrar, através da educação, o Brasil do racismo que o assola”, afirma Ana Josefina. Há previsão que o curso seja ofertado novamente a cada semestre letivo.
“Quero dar a minha contribuição nesse processo de formação de professores, em que estou envolvido desde 2003. Espero contribuir para que os professores do litoral tenham informações, ferramentas para trabalharem nas suas escolas, vou discutir com eles a elaboração de planos de educação para as relações étnico raciais, de história e cultura brasileira dentro das escolas, na ideia de irradiar práticas de educação antirracista e conhecimento sobre a África e sobre África da diáspora para dentro do currículo escolar” – Paulo Vinicius Baptista da Silva.